Algumas pessoas vão dizer que eu tive sorte em ter um parto a jato… mas eu sei q esse parto teve uma grande preparação, de 34 anos, 4 dias e algumas horas!
E esse pedaço de história começa pela sua busca e defesa. Logo no início da minha gestação, nos exames de primeiro trimestre, tivemos uma alteração de curva glicêmica o que por si me levaria ao diagnóstico de diabetes gestacional e com isso, uma série de sonhos estariam sob o risco de desmoronar…
Neste momento foi extremamente importante pensar na nossa equipe… uma equipe que olhasse por detrás das folhas do laboratório e me visse como uma pessoa cheia de desejos e sonhos e não um mero diagnóstico… e assim com toda facilidade do mundo a primeira pessoa q compõe a equipe é a minha amiga querida e perfeitamente competente, a Babi.
Não podia ser outra! Tenham uma amiga pra chamar de parteira! Tenham uma parteira pra chamar de amiga! Se vc não tem esse privilégio que eu tive, apenas conheçam essa mulher!
A Babi durante todo o pré natal nos encheu de confiança e amor, acreditando no poder do meu corpo de gerar e parir meu filho, onde e como eu quisesse, e nunca deixando de olhar pra todas as minhas condições clínicas! A cada consulta uma enxurrada de informação, de empoderamento! Junto da Babi, as mulheres incríveis do nascendo em casa , tb parceiras da casa pulsar poderiam compor equipe conforme andamento do parto, garantindo a segurança de todos!
Definido este importante passo, percebo q precisava de um momento pra mim, pra me conectar com meu corpo e com a minha gestação e começo então sessões semanais de acupuntura com a querida Flávia Arone que me acompanhou desde 5 semanas de gestação até às vésperas do parto, me proporcionando momentos de cuidado, reflexão e pausa com direito a muita conversa e até bolinho sem glúten com chá!
A consciência corporal e a conexão com o Teo iam aumentando também durante meus encontros terapêuticos com a Andrea, minha terapeuta há alguns anos, uma ouvinte mais que generosa!
A escolha da doula foi uma grande questão pra mim! Pois conheço tantas e tão competentes que escolher significaria excluir... então usei um critério: preciso de alguém que me conheça com intimidade...
escolhi por competência e por amor a minha amiga de antes, a Juliana Couto.
Ela já havia caminhado ao meu lado em terrenos muito muito íntimos em uma Jornada Heroína conduzida por nossa mestra comum a Mari Cogswell. A presença dela significatia a presença de muitas. Essa eh a principal função da doula: estar e ser presença!
Que maravilhoso! Nosso plano A estava feito e contava com um time classudo da Casa Pulsar! Desfrutar e provar da qualidade desse serviço que eu mesma criei e agora como gestante foi um presente, um deleite!
Por fim, nosso plano B se desenhou na escolha de médicas mulheres que acreditamos que, caso nosso plano A não pudesse ser concretizado, nos olhariam com amor e respeito, procurando atender o mais fielmente do que planejamos para a recepção do nosso filho! E tivemos o backup das queridas Cátia Chuba e Thaís Tubero, atenciosas e disponíveis sempre!
Eu e o Ro não precisamos falar muito pra entender que nossos corações estavam decididos: queríamos que nosso filho nascesse na nossa casa, na presença do nosso amado João Lucas, com todas as bençãos e proteções que um nascimento familiar pode trazer!
Fomos nós preparando vagarosamente… confesso que o parto do João não provocou ansiedade em mim assim como o do Téo! Sem grandes desesperos, estávamos atentos ao corpo mas muito conscientes que qdo tudo estivesse acontecendo, o corpo sábio, saberia avisar!
A preparação para o parto é muito importante. Pensar em todos os planos, todas as possibilidades, dividir com a equipe todas as dúvidas e angustias. “Precisamos”preparar o João pra vivenciar o nascimento do irmão de forma amorosa e natural… então foram muitas rodas de gestante que nos ajudaram nesse caminho. Contamos com a ajuda de profissionais incríveis pra lidar com toda mudança, desde nossos terapeutas, até as conversas acolhedoras das professoras do João. Que rede linda se formou!
No meio do caminho cai em uma contradição muito crucial para meu parto (sim, já já vcs vão entender): eu que não me sinto fotogênica e não gosto de sair em fotos decidi que queria que esse momento fosse registrado para a eternidade. E não poderia ser outra pessoa… como doula eu já vivenciei partos com fotógrafas incríveis… mas quem conquistou meu coração foi a Lê-la . Uma figura amorosa, delicada, atenta, silenciosa. Queria que o olhar dela pudesse contar em retratos toda a experiência que viveríamos e tinha certeza q ela conseguiria captar essa essência. Ela topou e nesse momento eu tinha ctza que estava com a minha equipe completa! Meu coração se aquietou e entendi que agora era só hora de esperar, gestar e confiar!
Com o avançar da gestação comecei a sentir muitas contrações de treinamento... perdi tampão em quantidade expressiva desde muito cedo (ainda no segundo trimestre), o que me fez entender uma coisa: Téo era uma criança imersa no desejo de nascer! Eu sentia esse desejo de vida dentro de mim crescendo e algumas afirmações foram se formando: não chegaremos nas 40 semanas e meu parto será rápido e feliz!
Fomos preparando o ninho... tudo foi ficando lindo... as 37 semanas chegaram e eu já estava exausta! Muita contração, muito recolhimento, muita vontade de não estar entre pessoas... nas vésperas de completar 34 anos e muito entediada percebi que mal tinha tirado fotos minhas de gestante.
Pergunto a Lela se ela poderia fazer algumas fotos minhas e marcamos para 14/10 as 14:30.
Ela sugeriu no dia seguinte mudar pra sexta pois estava em uma indução... meu coração soube responder: não sei se sexta vai dar tempo... os ponteiros de todos se ajustaram e alinharam e ela, atenta e disponivel pode acolher meu pedido e dia 14/10, as 14:30, quando ela chegou, Teo já anunciava que também queria sair nas fotos... mas essa parte da história vai ficar pro próximo post!
Acordei dia 14 muito animada. Tinha sessão de fisioterapia com a Isabela Leão e desmarcamos pois a noite havia sido intensa de contrações e tb tinha já perdido muito tampão. Tive uma manhã preguiçosa enquanto o Ro saiu com João (férias da primavera) pra comprar algumas coisas que ainda estavam faltando para o parto.
Tomei banho, arrumei almoço e ficamos aguardando a Lela. Nisso, o vai e vem de contrações já estavam acontecendo.. e não parava mais… mas eu me sentia ótima e feliz! Teo avisando q estava chegando, João animado e a Lê-la chega nos presenteando com uma tarde super cheia de ocitocina e auto estima! Tiramos fotos na nossa casa, nosso cantinho tão querido e acolhedor! Teve sobe e desce, movimenta móveis, “peraí Lela, contração aqui”… passa contração, sorriso de alegria, podemos continuar! Eu tava amando! A Lela as vezes me olhava e perguntava: vc não vai avisar ngm? E eu muito calma dizia q não era hora ainda! Que estava bem, tranquila e que na hora certa todo mundo estaria onde tinha que estar! E era verdadeiro! Eu sentia o corpo… e agradecida! Sentia prazer, bem estar e muita confiança!!!
Qdo a Lela foi embora se despediu com um “até daqui a pouco” e eu fui arrumar a bagunça que fizemos! Eram 16:30. As 16:46 mandei no grupo de WhatsApp do parto: feeling, tá perto!
Essa foi a fase latente do meu trabalho de parto.
As 18:00 me deu uma baita fome. Lá vou eu pro fogão atender aos desejos. As 19:00 uma chuva imensa cai… entre uma contração e outra lá vou eu agachando e indo cozinhando! 19:10 sentamos a mesa pra comer. 19: 20 uma contração me tira da mesa e me faz agachar e respirar profundamente. 19:21 minha bolsa rompeu! Meu coração saiu do lugar nessa hora! Que emoção! Isso me havia sido roubado no parto do João e dessa vez eu finalmente pude sentir! Que delicia! Meu corpo perfeito! Senti uma gratidão e muito conforte de estar nesta pele! Que privilegio!
1-Rápidamente olhei meu prato ainda cheio e pensei: preciso comer! E comecei a comer enquanto o Ro avisava a equipe... pedimos para q ngm viesse ainda....
Afinal, eu estava ótima, comendo e conversando! As contrações estavam longas e com intervalos super curtos (3min) e eu pensava que ela pq a bolsa tinha acabado de romper... 19:50 avisamos q os intervalos estavam a cada 2min, mas eu estava ótima.
As 20h eu já começava a vocalizar intensamente durante as contrações e então decidimos que era a hora de chamar todo mundo! Eu queria muito estar sozinha até que tivesse certeza que tudo estava acontecendo... não queria correr o risco de sentir pena de mim, ou de desejar ser tutelada pela minha equipe... e Eu sabia q tinha escolhido mulheres queridas para estar comigo que entenderiam e me dariam esse espaço precioso! Elas respeitaram cada segundo e ngm se movimentou até que de fato o to chamasse! Todas acreditavam nos meus comandos e nas respostas do meu corpo!
Tão bonito isso!
O Ro começou a organizar tudo, tirar pratos. Eu ajudei a tirar a mesa.
Busquei uma posição confortável. Não tinha.
João parecia estar em festa! Ele olhava pra mim com olhos de alegria e rindo falava: "eu sabia que meu irmão ia nascer hoje, eu sabia! Ele está chegando". Meu coração acelerava com essas afirmações! Era muita alegria!
A Lela foi a primeira a chegar, 20:44. Ela ficou 8 minutos sem a Babi em casa e tenho certeza que parecia uma eternidade! Quantas contrações tive em 8 min? Não sei, mas sei que os puxos começaram e entre uma contração e outra, uma força e outra, meu olhar encontrou o olhar da Lela e eu tentei mentir dizendo: não é puxo!
O Ro rapidamente já tinha montado a banheira, a mangueira jogava uma água quentinha pra encher e eu não pensei duas vezes: era exatamente ali que eu ficaria.
Arranquei a roupa e entrei nela... daqui pra frente, São flashs de memória, costurados com a narrativa dos que testemunharam o que se desenrolou nos próximos 30min. Era isso: estava na fase expulsiva. Eu, o R0, o João e a Lela. Em algum lugar de mim estava até divertido... eu sabia q todo mundo chegaria! Confiei a cada minuto em tudo... e então, as 20:53 a Babi chegou... e agora, essa parte da história merece um post especial...
O trabalho de parto seguia, agora com muita intensidade, ritmo e vontade de fazer força…
Precisei de uma pausa... pra continuar acreditando e na outra força o corpinho dele saiu gentilmente. E a Babi me ajudou a segura-lo. Eram 21:17. Nesse instante ele abriu os olhos e, juro por todas as coisas sagradas, ele ergueu a cabeça. Num reflexo estendeu os braços e veio pro colo... como na foto.
Esse instante... esse momento indescritível... essa sensação de prazer, potência... essa morte-vida... foi registrada... uma dobra na vida... e esse registro que não tem Legenda que seja justa, merece um posto só pra ele... a seguir!
20:53 a Babi chega em casa. Quando nos vemos me dou o direito de viver a hora da covardia. Me lembro de falar que ainda demoraria muito… enquanto eu falava a Babi rapidamente, de um lado pro outro ia preparando o material, ouvindo o coração do Teo, me garantindo que ele estava bem. Depois de uma contração muito intensa eu peço pra ela me examinar e ela me lembra q não havia necessidade e me orienta a me tocar, se eu desejasse … eu me toco e sinto meu colo se diluindo na água e por fim, sinto a cabeça do Téo! Ual! Era mesmo ele! Tão pertinho! Estava acontecendo… e provavelmente já estava acabando… eu relaxo! 21:01 a Ju (que estava presa do lado de fora mandando loucamente mensagem pra gente 🤣) chega e como um imã minha mão se agarra a dela… senti necessidade de me conectar profundamente com meu corpo… vi q todos estavam ali… estava tudo perfeito… nossa play list da vida tocando…as contrações vinham e eu pensava:
“Eu já conheço essa dor… ela vai trazer o Téo pra mim… está tudo bem… menos uma!”
A Babi me lembra q posso me movimentar mas estava muito confortável como estava… então, no momento em que antecede a força q traz o Téo pro outro lado eu afundei na piscina… pra só ouvir o barulho do corpo na água…
Eu seria capaz de dizer exatamente onde ele estava no meu corpo e tudo q aconteceria naquele momento… eu respirei fundo e simplismente, me soltei!E ele desceu mais… e o corpo abriu mais…
Eu senti a presença dele em cada parte do meu corpo que ardia como se pegasse fogo.
O Rodrigo chamou o João e disse que o irmão estava nascendo… Joao admirado e feliz ficou atento, observando. A cabeça do Téo saiu e Joao correu pra perto de mim, que estava agarrada no Ro e começou a chamar baixinho “Vem Téo, vem Téo” (olhos úmidos aqui enquanto escrevo)
Dia 14/10/21, as 21:17, Téo nasceu. Eu renasci. Nossa família renasceu. Nenhuma legenda daria conta de expressar o q eu estava sentindo… mas essa foto diz tanto dessas coisas todas… dessa potência… dessa travessia… da dobra da vida… morte/vida… da continuidade….
E então éramos todos inteiros e um silêncio arrebatador, reverente, diante da perfeição da vida… do todo de um Deus(a) que insiste grandiosamente a habitar em nós! Me faltam palavras!
Tire suas principais dúvidas sobre o parto domiciliar planejado e viva essa experiência com segurança e autonomia.