A gestação não foi planejada, mas desde muito antes de acontecer eu sempre soube que gostaria de um parto o mais natural possível. E assim que descobri a gravidez já comecei a pensar como seria, onde seria, qual equipe acompanharia. Meu pré-natal foi pelo SUS e foi MARAVILHOSO! Em nenhum momento alguém me questionou sobre a decisão de parto domiciliar, fui super bem atendida e acolhida. Durante a gestação, o maior incomodo foi uma dor imensa nas costas, passei em vários profissionais e nada de melhorar, essa dor me acompanhou até a hora em que o Caê nasceu. Fora isso tudo correu bem, foi uma gravidez tranquila, e eu sentia bastante conexão com a criança que eu estava gestando, sentia muita paz.
A DPP era 05 de maio. No dia 25 de abril eu recebi mensagem de algumas pessoas queridas perguntando sobre mim e sobre a gestação, eu e o João já estávamos sentindo que o Caetanno estava chegando, mas achávamos que seria dali uma semana mais ou menos, e essas mensagens fizeram com que eu sentisse ele mais próximo. Nessa noite fomos dormir pelas 23 e pouco, e quando eu sentei na cama falei pro João que achava que tinha feito xixi na calça rs, fui ao banheiro e vi que era o tampão mucoso, mas não dei muita importância porque isso não é sinal de parto. Eu já vinha tendo bastante contrações de treinamento, e essa noite não consegui dormir bem sentindo as contrações, estavam um pouco mais doloridas, precisei levantar de madrugada pra tomar um banho e ver se aliviava, não ajudou muito.
De manhã quando o João acordou eu comentei com ele e nós descemos pra tomar café. As contrações continuavam, suportáveis, sem ritmo, mas não passavam. Eu queria arrumar um altar para o parto, e achamos prudente deixar tudo pronto. Ainda queria umas flores, e lembro que comentamos que caso comprássemos as flores e não fosse a hora, compraríamos outras depois. Passamos no mercado para buscar suco de laranja, que era a única coisa que eu imaginava que fosse pedir durante o trabalho de parto (e imaginei certo), e as flores, achamos uns lírios lindos, compramos e voltamos pra casa.
Eu passei o dia no sofá tentando monitorar as contrações e falando com a equipe de parto, e o João estava no escritório trabalhando. A nossa doula, Iolanda, já tinha certeza que o parto iria acontecer e queria vir pra nossa casa, e eu ficava falando pra ela esperar porque não achava que seria naquele dia. Na metade da tarde as contrações foram ficando mais dolorosas, e eu falei pro João que precisava dele comigo, ele avisou no trabalho e veio pra sala. Começamos a arrumar a casa, o altar e era uma sensação estranha, eu tinha a impressão de que no final do dia iríamos guardar tudo e dormir nós dois, a Filó e a Becky, como sempre aconteceu.
A Iolanda disse que ia tomar um banho e vinha pra casa, a Marcelle (fotógrafa) também. Falei com a Babi, e ela falou pra eu tomar um banho longo, se eu não me engano não era pra eu sair antes de 30 min, porque se fossem contrações de treinamento iriam acalmar. Eu lembro de entrar no banho, levar a caixa de som e a bola de pilates, e ficar lá, cantando, curtindo a água quentinha, e depois já lembro de estar sentindo bastante dor e falando pro João ligar pra Babi que tudo estava ficando intenso demais.
Saí do banho e a Io a Marcelle chegaram e foram organizando umas coisas, já era final de tarde, e eu ainda estava achando que não ia parir naquele dia. As 18 chegou a Babi (parteira), ela falou pra eu subir com o João e tentar descansar um pouco porque ela achava que eu não estava em fase ativa, e era bom dar uma descansada. O João saiu do banho e subimos pro quarto, já estava escuro, e quando entramos no quarto nem deu muito tempo de deitar, as contrações vieram mais fortes, eu comecei a ficar bem enjoada, já foi ficando desconfortável ficar em qualquer posição. Eu sentia muita vontade de vomitar e não saia nada. A Iolanda subiu pra ajudar, usou um óleo essencial pra me ajudar com o enjôo, e colocou o rebozo na porta pra que eu tentasse me abaixar nas contrações, mas eu não conseguia.
Fiquei mais um tempo no quarto e logo vieram avisar que a piscina já estava cheia, eu desci pra piscina e foi MUITO bom entrar naquela água quentinha, parecia uma abraço gostoso, essa sensação não durou muito tempo, logo as contrações ficaram mais fortes.
Eu passei a maior parte do trabalho de parto dentro da água, lembro que eu sentia uma contração e logo em seguida outra, e então passava uns minutos sem dor, então quando a primeira vinha era um pouco desesperador porque eu sabia que já viria outra na sequência, e a dor era muito forte. O João passou o tempo inteiro do meu lado, eu sentia que se ele se afastasse a dor aumentava. Quando eu imaginava o trabalho de parto, não achava que fosse precisar tanto da presença dele como eu precisei, ele foi meu porto seguro dentro de todo processo, não consigo me imaginar passando por tudo aquilo sem ele do meu lado.
Lembro de sentir muita dor, muito cansaço, até dei umas cochiladas durante as contrações. Lembro de sentir raiva também, porque eu estava sentindo dor e todos estavam olhando pra mim e ninguém fazia nada pra que aquela dor passasse. Em um momento olhei pro altar que havíamos montado e vi a foto da minha nonna lá, e na minha cabeça eu não conseguia entender como ela tinha passado por aquilo 14 vezes rs. Ouvia a equipe falando que estava quase no fim e aquele fim parecia durar uma eternidade.
21:21 senti a bolsa estourar, e foi uma sensação muito maluca, aquela água toda saindo de dentro de mim e eu dentro da água. Em algum momento as meninas sugeriram que eu mudasse de posição, a Io e o João me ajudaram e eu não consegui ficar por muito tempo. Decidi levantar e ir pro chuveiro, e dessa parte eu não lembro direito, só lembro de voltar e deitar no sofá porque eu estava cansada demais e queria dormir, e parece que no sofá as contrações não eram tão efetivas. A equipe inteira ficou tentando com que eu levantasse de lá, e pra mim era difícil demais pensar em sair daquela posição, tudo que eu queria era dormir por algumas horas, voltar amanhã, sei lá rs
Saí do sofá e fui pro banquinho, e elas me mostraram como fazer força de expulsão, acho que quando a contração vinha eu mais segurava do que empurrava. O tempo no banquinho foi curto, fiquei incomodada com a dor e voltei pro sofá, lembro da Fran falando “Não se entrega!”, e eu pensando que queria ter forças pra terminar logo, mas estava exausta. A Iolanda lembrou que eu tinha dito que precisava de alguém firme, parou do meu lado e não lembro as palavras dela, mas sei que ela e o João me convenceram a voltar pro banquinho. E lá eu fiquei, João me apoiando pelas costas, e as mãos de três mulheres me dando forças pra continuar. Me perguntaram se eu queria ver a cabeça dele pelo espelho, e em um primeiro momento eu não quis, me deu medo de não conseguir ver nada e saber que aquilo ainda iria durar muito. Mas logo vieram mais algumas contrações e eu senti a cabeça dele, e olhei no espelho e podia ver o cabelinho, e aquilo me deu mais forças pra continuar. A parteira falou que estava chegando o círculo de fogo e que ia arder mesmo, que era pra respirar que seria rápido, ai eu lembro que veio uma contração e eu fiz força e parei, e alguém falou que dava pra ir mais, e se não me engano foi nessa contração que o Caê nasceu, as 2:04 do dia 27/04/2021. Chegou e veio quentinho pros meus braços, e foi a melhor sensação do mundo.
Tivemos nossa golden hour, João cortou o cordão, eu comi, tomei banho e a equipe foi embora quando já estavamos no quarto. O que era 2 virou 3, as noites nunca mais foram as mesmas, mas a chegada do Caê me fez muito mais feliz, e me faz entender muitas coisas da vida a cada dia que passa.
No nascimento do meu filho eu e ele fomos os protagonistas. A equipe estava aqui pra auxiliar e respeitou todas as nossas vontades. Meu desejo é que todas as mulheres (independente da via de parto que escolherem ou precisarem) tenham seus corpos e suas vontades respeitadas, assim como eu fui. O nascimento de uma nova vida é uma magia difícil de descrever. Eu passaria por tudo novamente.
Tire suas principais dúvidas sobre o parto domiciliar planejado e viva essa experiência com segurança e autonomia.