A primeira lembrança que tenho de terem me despertado para a importância do momento do parto foi numa aula de psicologia em que o professor disse que este era o primeiro trauma de nossas vidas. Ali começou meu desejo por parto humanizado.
Depois de assistir o documentário Renascimento do parto, decidi que quando engravidasse, além de um parto humanizado, iria parir em casa. Quanto mais eu me informava, mais decidida eu estava. Eu só não tinha dimensão da dificuldade que é ter um parto assim neste país.
Encontrar uma equipe é um passo importante desse processo. E não se trata apenas de contratar alguém que tenha conhecimento, é necessário haver uma conexão, afinal, parto é um momento importante e íntimo.
A Babi trouxe todo o conhecimento e o acolhimento que procurava, foi fundamental para me empoderar e encorajar quando qualquer medo ou ansiedade batia. No dia do parto, trouxe sua segurança, seu respeito, sua confiança. No pós parto, manteve a atenção, o cuidado e a escuta.
Foi um prazer tê-la tido como parteira e até hoje é um prazer saber que é alguém com quem posso contar.
DPP: 27/02/20
DN: 19/02/20
38+6 semanas
3.605kg
51 cm
O Be nasceu!
Levamos mais do que uma gestação toda nos preparando para este dia. Para receber nosso pequeno da melhor maneira que pudessemos.
Foram diversas rodas de gestante, livros, videos, conversas, pesquisas, mudança de hábitos... Uma busca que vem desde o momento que decidimos que queríamos ser pais.
Essas quase 39 semanas foram de muita vivência e aprendizados. E estamos muito felizes e orgulhosos de termos conseguido chegar até aqui e finalizar esta etapa com um nascimento belíssimo e amoroso como desejávamos.
Nós parimos nossa família!!!! Parimos em nossa casa, juntos e com muito amor. Sim, tenho muito orgulho e felicidade de dizer que foi um parto domiciliar.
O que alguns consideram uma loucura ou um ato de coragem, para nós era a opção mais segura, natural e amorosa. E poder estar em casa com meu pacotinho lindo dormindo colodo ao meu corpo só nos traz mais certeza.
Vou tentar descrever como foi o parto, só não sei se acharei palavras...
Parto domiciliar é só para gestações de baixo risco. Se tiver uma vírgula que desvie disso, não se pode realizar. E sou muito grata pela minha gestação que foi perfeita nos mais diversos aspectos.
Ela também só pode ocorrer após 37 semanas. Por isso, celebramos muito quando alcançamos essa marca.
E a partir das 37 semanas, com ele já prontinho, começamos a fazer algumas coisas já mais voltadas para facilitar o trabalho de parto. Como comer 6 tamaras por dia e usar óleo de primula.
Tudo que pudesse contribuir para a realização de nosso parto natural e domiciliar, a gente fez.
Parto assim não tem data marcada. Quem manda é a criança. E para quem gosta das coisas planejadas, isso é um teste de paciência.
Seguimos vivendo a vida, dia apos dia, para não enlouquecermos. Cada dia uma expectiva, uma possibilidade.
Vimos datas que gostaríamos que ele nascesse chegar e passar, a lua mudar... E nada.
Vimos o tampão começar sair no sábado e a vida seguir sem uma contração mais forte que o normal.
E quando estávamos de boa, seguindo nossa rotina básica de netflix deitado no sofá pós jantar, depois de um dia de visitas queridas que queriam ver o barrigão do Be, eu sinto algo explodir dentro de mim. Literalmente!
Era a bolsa! Não sei como fiz... Mas fui ninja de conseguir chegar na privada sem molhar o sofá e o caminho para o banheiro.
Era final do dia 18. A gente já estava visualizando e conversando com ele para nascer dia 20/02/2020 ou 22/02/2020. Se ele fosse querer seguir nossas sugestões, devia me preparar para um longo trabalho de parto. Até aquele momento, em que a bolsa estorou mas as contrações estavam tranquilas, a ideia até parecia concebível...
Bom, ainda na paz, ligamos pra parteira e escutamos as instruções. Como a bolsa rompeu, se as contrações não engrenassem até a manhã do dia seguinte, a recomendação seria induzir com oléo de rícino para não chegar com tantas horas de bolsa rota e precisar de alguma coisa pior. Eu não queria induzir e menos ainda fazer uso desse óleo...
Liguei para minha mãe, contei do ocorrido e conversei para que viesse para sao paulo só na manha seguinte e que esperasse por notícia na casa do meu irmão. Ainda deu tempo de explicar que não teria ninguém para narrar o processo ao longo do parto, para desespero dela. Notícia mesmo, só ao fim.
Enquanto as contrações não vinham, deu tempo para uma despedida de barriga, encher piscina e de tentar ir descansar.
Até que, de madrugada, deu vontade de ir ao banheiro. O que era para ser um vou até ali e volto para tentar descansar mais,foi um caminho sem volta.
Chamei o Chris para me ajudar na contagem das contrações. Não sabia dizer quando iniciava ou terminava. Nem o quanto doia. Mas aos poucos, foi doendo mais. Não tinha noção de quando e quem devia chamar. Se já doia o sufiente ou se estava longe daquilo terminar.
Na dúvida e prestes a perder a parte consciente que me restava, pedi para que meu marido chamasse a doula. Ela tinha dito que poderia chegar mesmo que ainda não tivesse engrenado o parto e ela saberia quando chamar as parteiras.
Confesso que não aguentei esperar a chegada da doula para reconhecer se era ou não trabalho de parto e pedi para chamar as parteiras e a fotógrafa.
A partir dai, tudo são flashes na memória.
Entrei num mundo paralelo dentro de meus olhos fechados.
Lembro de cenas em cada cômodo da casa. Lembro da limpeza do corpo. Posições, contrações. Pessoas surgindo. Não deu tempo de racionalizar. Não havia tempo para ter pudores. O tempo não existia. Lembro da parteira ofertar o banquinho e eu achar desconfortável. Mal sabia eu que ali seria o local. Lembro de ali ter colocado a mão e sentindo meu filho pela primeira vez. Não sabia identificar qual parte dele era, mas era ele e ele estava chegando. Lembro de ter ido para a piscina na esperança de um fim próximo que, na minha realidade de partolândia, foi uma eternidade.
Morri algumas vezes! Minhas energias estavam indo ao mesmo tempo em que voltavam a cada contração.
Preparei aquele quarto onde estava a piscina como quarto de parto com todo carinho. E, ali, naquela piscina em que sonhei com o nascimento do meu filho, só senti a minha própria morte. Parecia que já estava lá horas e não sentia evolução. Parecia que minha energia ia acabar ali mesmo. Mas eu sabia que era pelo meu filho, pelo melhor nascimento para ele. E não sei da onde, mas a energia surge.
Mudamos de ambiente, desapeguei da ideia de ele nascer na banheira. Sugeriram irmos ao banheiro e foi ali, em um cômodo minúsculo que 6 pessoas milagrosamente couberam para acompanhar o nascimento do Be.
Foi sentada naquela banqueta antes desconfortável que o Bê nasceu. Sobre o primeiro olhar de seu pai que foi quem o pegou na contração seguinte e me deu emocionado nosso filho para meus braços. Não tem como descrever a dor de parir e sentir seu filho sair de ti. Mas a emoção de ouvir o choro do seu filho e ele silenciar rapidamente ao ouvir seu coração; a emoção do olhar do seu filho que mal chegou ao mundo e te fita encantado... Ver aquela perfeição, te-la no seu colo e saber que ela é parte sua... Isso tudo sim é indescritivel.
Meu filho passou a primeira hora no meu colo, no conforto de nossa cama. Trocando olhares, toques, carinhos. Pegando o peito. Tudo com o pai colado, chorando ao lado de emoção.
Seu cordão foi cortado só depois dessa nossa hora dourada. Já sem mais pulsar. O pai pode cortar. Nos pudemos reconhecer e agradecer a placenta e toda a perfeiçao que o universo dispoe para o milagre da vida.
Tive o parto dos meus sonhos. Apesar da eternidade da piscina, durou só 12h de bolsa rota e 5 de trabalho de parto. Não sei dizer em nenhuma etapa quanto tinha de dilatação. Não recebi um toque se quer.
Minhas parteiras queridas só acompanhavam o necessário para ter certeza que eu e ele estávamos bem e todos ali confiavam em mim, no meu corpo, no meu filho. Elas me passaram e passam toda a informação e confiança que me encoraja a seguir esse caminho tão lindo e potente.
Minha doula foi fundamental, colocando-se ao meu lado, apoiando sempre e buscando meios para me relaxar e voltar mais forte a cada contração. Foi como um anjo que com todo carinho e troca de experiência tem sempre um conforto e a torcida pelo nosso melhor. A fotógrafa que conseguiu chegar há tempo para registrar, com muita sensibilidade, momentos nem sempre de sorrisos mas de muita emoção.
E, principalmente, tive o parto dos meus sonhos porque contei com o melhor marido e pai. Sou muito grata pelo companheirismo nessa jornada. Por comprar a ideia e mergulhar de cabeça. Por ter estado ao lado em cada passo e ido junto até a partolândia. Muita admiração pois imagino a intensidade do seu lado da historia.
E, por fim, o parto foi perfeito devido ao Be. Meu filho que veio ao mundo com uma força incrível. Honro muito você.
É então com muito orgulho e felicidade que digo que, nesta data por mim não pensada e pelo Be tão bem escolhida, 19/02/2020 as 9:22h, eu morri, eu renasci e eu pari! Foi altamente empoderador para mim e cheio de amor e respeito para o Be.
*Acompanhar as histórias do grupo foi fundamental para mim para me sentir parte deste movimento lindo que busca um novo nascimento. Espero que minha história possa inspirar outras pessoas. Nós, mulheres, somos muito fortes e incríveis.
Tire suas principais dúvidas sobre o parto domiciliar planejado e viva essa experiência com segurança e autonomia.